sexta-feira, 3 de abril de 2020

VALORIZAÇÃO DA BELEZA FÍSICA


                                   






PROPOSTA DE REDAÇÃO - DISSERTAÇÃO ARGUMENTATIVA

TEMA: Em sua opinião, é importante, nos relacionamentos, valorizar a beleza física? 

Tema da redação da Unisinos/2013 - Disponível em: https://www.unisinos.br/vestibular/images/docs/2018/Redacao-e-Objetivas---PDF.pdf Acesso em 03/04/2020 




     A beleza física sempre foi valorizada, nas diferentes épocas da história. Hoje, pode-se dizer que seja supervalorizada, pois são muitas as pessoas que recorrem a medicamentos e procedimentos estéticos a fim de alcançarem um padrão de beleza física dito ideal e, dessa forma, serem “aceitas” em grupos sociais. Há quem, inclusive, coloque a beleza física como um aspecto essencial em uma relação afetiva, afirmando que a beleza garante a atração entre as pessoas. Outras pessoas mantêm opiniões diferentes a respeito, propondo que a beleza, apenas, não é suficiente para manter-se um relacionamento.
     TAREFA com base nessas considerações, na leitura dos textos de apoio a seguir e em seus conhecimentos sobre o tema, redija um texto argumentativo em que você responda à seguinte questão:  Em sua opinião, é importante, nos relacionamentos, valorizar a beleza física? 
     Fundamente sua tese em argumentos consistentes.


Textos de apoio - Texto 1
Entenda as mudanças de padrão de beleza ao longo da história
Por Wilson Weigl* 
     Em cada época, é fácil identificar o apreço generalizado por um ou outro tipo físico, dos corpos roliços aos mais secos, das barriguinhas pronunciadas aos abdomens “tanquinho”, dos seios minúsculos aos bustos siliconados. Mas, se hoje qualquer pessoa é dona de seu nariz para decidir se quer frequentar a academia ou viver feliz acima do peso, houve tempos em que ninguém era responsável pelo próprio corpo. Por milênios, a forma física era colocada a serviço de propósitos sociais, militares ou religiosos. “Na Pré-História, o corpo era arma de sobrevivência, a fim de caçar e correr dos predadores, mas, nas primeiras civilizações, os treinos e as atividades sempre estiveram voltados a necessidades coletivas, como guerrear”, diz Denise Bernuzzi de Sant’Anna, professora de história da PUC-SP, autora dos livros Corpos de Passagem e Políticas do Corpo. Em outros períodos, a religião moldou a visão coletiva das questões relativas ao corpo. “Como o corpo era considerado sagrado, a Igreja proibia dissecações e estudos de cadáveres”, diz Luís Ferla, professor de história da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Só entre os séculos 15 e 16 despontou uma nova perspectiva, mais individualizada, um processo que perdura e se radicaliza até hoje. [...]
1200 a. C.: As primeiras academias
     Na Grécia, a educação física era considerada um pilar da formação dos homens, que, desde meninos, frequentavam os gymnasiums, complexos esportivos que também eram centros de formação intelectual. Ali, além de treinar para se tornar soldados ou competir em jogos públicos, os garotos estudavam filosofia, literatura e música. Havia estabelecimentos específicos para treinamento de boxe e luta, as palaestras. Os atletas se exercitavam sem roupa (gymnos significa “nu” em grego). [...]
RENASCIMENTO: Das virgens às Vênus
     O Renascimento resgata valores humanistas e artísticos e o apreço pelos padrões de beleza da Antiguidade. A Virgem Maria, musa dos pintores medievais, cede espaço para representações da deusa Vênus, de ninfas e de semideuses despidos. As mulheres exibem longos cabelos, formas roliças e voluptuosas e até uma barriguinha pronunciada. Um dos quadros da época é O Nascimento de Vênus (1485), de Botticelli.
1900: O pai da musculação
     O prussiano Eugen Sandow (1867-1925) enxergou na musculação um filão inexplorado. Bolou alguns dos primeiros equipamentos, criou a primeira competição oficial de fisiculturismo (em 1901) e lançou a primeira revista especializada no gênero, a Physical Culture.
1920: O sex-appeal
     Entre os anos 1920 e 30, surgiu a expressão sex- -appeal. Ela tentava explicar a sensualidade no jeito de andar, de falar e até de encarar os homens. Nos chamados Anos Loucos, as mulheres, incorporadas ao mercado de trabalho, adotaram um visual andrógino, com cabelos curtos e seios e quadris disfarçados em vestidos retos. Em 1925, o corte de cabelo à la garçonne era usado por uma em cada três mulheres.
1940: Hollywood
     Os astros de Hollywood foram as grandes referências de beleza e forma física durante os anos 40 e 50. Sexies, voluptuosas, com quadris largos e seios fartos acentuados pelos sutiãs com enchimento, divas como Rita Hayworth e Jayne Mansfield encarnaram a femme fatale.
1970: O andrógino
     Tempo de liberação sexual e igualdade de direitos entre homens e mulheres. Os padrões de beleza masculinos sofrem mudanças drásticas. “As distinções ficaram mais tênues; os homens deixaram crescer os cabelos, ficaram menos musculosos e usaram roupas unissex”, diz a professora Denise Sant’Anna. Astros do rock como Mick Jagger e David Bowie consagram o visual andrógino. [...]
1990: Supermodelos
     Modelos sempre ditaram padrões de beleza. Mas foi diferente com Cindy Crawford, Naomi Campbell, Claudia Schiffer, Linda Evangelista e Kate Moss, as top models da virada dos anos 1980 para 1990. Altas, magras, curvilíneas sem exageros, dominaram passarelas, capas das revistas e campanhas das grandes marcas a ponto de seus anos de glória terem sido batizados de A Era das Supermodelos.
ANOS 2010: Os reis do octógono
     Os adeptos do MMA (Mixed Martial Arts) compartilham um padrão corporal que caiu no gosto masculino. Boxe, muay-thai, jiu-jítsu ou krav magá são alternativas para construir músculos e desenvolver atributos como agilidade, equilíbrio e coordenação. A tendência começou com a família Gracie, um clã de lutadores de jiu-jítsu. O patriarca Hélio Gracie fez sua primeira luta nos anos 30.  
*Wilson Weigl é jornalista.

Texto de apoio - Texto 2
Sete em cada dez brasileiros acreditam que gastos com beleza são uma necessidade e não um luxo, aponta pesquisa
     Publicado em 24.06.2016
     23,4% dos consumidores gastam mais do que o orçamento permite para cuidar da beleza. Para maioria dos entrevistados, atributos físicos potencializam oportunidades de vida e carreira profissional O consumidor brasileiro é vaidoso com a aparência e admite gastar com produtos e serviços de beleza para melhorar a autoestima. A constatação é de um levantamento feito pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em todas as capitais e no interior dos 26 Estados e do Distrito Federal. Segundo dados do estudo, seis em cada dez brasileiros (62,7%) consideram-se pessoas vaidosas e preocupadas com sua aparência e 65,7% concordam com a ideia de que cuidar de beleza não é luxo, mas uma necessidade. Outro número que reforça a preocupação do brasileiro com a própria imagem é que quase a metade dos entrevistados (49,4%) acredita que gastar dinheiro com o propósito de melhorar a aparência física é um investimento que vale a pena, ao proporcionar sensação de felicidade e satisfação.
     Há ainda uma parcela considerável de consumidores que reconhece exagerar nesse tipo de gasto, colocando em risco a saúde financeira: quase um quarto (23,4%) dos consumidores brasileiros assume o hábito de gastar mais do que efetivamente pode com cuidados estéticos, sendo o comportamento mais frequente entre mulheres (26,5%), pessoas com idade entre 18 e 34 anos (29,0%) e pertencentes à classe C (25,0%).
     O estudo sugere que a preocupação com a aparência tem uma ligação direta com as relações sociais e de trabalho. Também foi perguntado aos consumidores sobre as características que mais influenciam o sucesso profissional de uma pessoa, e os resultados mostram que a boa aparência foi a quarta opção mais citada (32,1%), ficando à frente de atributos como inteligência (28,9%), disciplina (23,4%), atendimento atencioso (21,7%) e simpatia (20,9%). As primeiras colocações ficaram com esforço e dedicação (48,1%), qualificação e estudo (47,4%) e honestidade (41,4%). De acordo com o estudo, sete em cada dez (74,8%) entrevistados acreditam que pessoas bem cuidadas aparentam ser profissionais melhores e mais da metade (52,6%) concordam que pessoas bonitas têm mais oportunidades na vida – opinião partilhada sobretudo entre os entrevistados da classe C (54,7%).
     “O estudo mostra que o investimento em beleza reflete não apenas a busca pelo bem-estar e felicidade das pessoas, mas também um investimento na possibilidade de elas encontrarem melhores oportunidades na vida pessoal e profissional”, explica o educador financeiro do portal ‘Meu Bolso Feliz’, José Vignoli, que ainda faz um alerta: “cuidar da beleza é importante para manter a autoestima e a satisfação consigo mesmo, mas isso pode ser feito sem gastar muito e sem prejudicar o orçamento doméstico, desde que o consumidor faça uma lista de prioridades e ajuste seus hábitos de consumo ao tamanho do bolso”, garante.
Para 57% dos consumidores, produtos de beleza têm poder para mudar aparência
     Gastos com roupas, calçados e acessórios (40,5%), alimentação saudável (40,2%), cuidados com as unhas (30,3%) e com os dentes (38,0%), controle do peso (35,4%), cremes para o corpo e rosto (34,5%), atividades físicas (32,5%) e pintura do cabelo (26,9%) são as medidas mais tomadas pelos consumidores entrevistados para cuidar da beleza. O estudo descobriu ainda que mais da metade (57,4%) dos consumidores acreditam que os produtos de beleza têm a capacidade de modificar a aparência das pessoas para melhor, chegando a 66,8% entre as mulheres e 61,6% entre os consumidores da classe C. Quanto às motivações dos que consomem produtos para ficar mais bonitos, a pesquisa indica que a principal delas é o aumento da autoestima (62,1%).
     A pesquisa também procurou saber quais são os produtos ou serviços que os entrevistados têm a intenção de adquirir nos próximos três meses para cuidar da aparência e constatou que os cosméticos estão em primeiro lugar do ranking, com mais da metade das citações (50,7%), seguidos pelas roupas, calçados e assessórios (43,9%) e pelos cuidados com o cabelo, unha, barba e pelos (42,3%). Outras opções ainda mencionadas foram tratamentos odontológicos (24,4%), maquiagens (20,9%) e remédios e vitaminas (19,0%). Já com relação aos tratamentos de maior valor financeiro e de maior complexidade que os entrevistados desejam realizar pelos próximos 12 meses, os mais mencionados são clareamento dentário (20,9%), aparelho para correção nos dentes (14,8%) e aplicação de porcelana nos dentes (10,4%). [...]
Fonte: SPC Brasil

Texto de apoio - Texto 3
A ditadura do corpo ideal e o preconceito velado
Amanda Nunes
      “Com a estética, o sujeito entra em uma relação sensível com o mundo que se diferencia conscientemente da natureza objetiva concebida a partir da revolução copernicana. A subjetividade torna-se então, por meio do sentimento representado, o fundamento de uma presença estética de uma natureza”. Rolf Kuhn¹.
      A palavra estética refere-se à cognição pelos sentidos, ou seja, à “compreensão pelos sentidos”. É um ramo da filosofia que perpassa e ultrapassa o campo visual, já que compreende um conjunto de sensações que refletem a percepção da beleza. Além das avaliações e julgamentos do que é o belo, contempla-se também a emoção que ela suscita nos seres humanos. Essa concepção está presente especialmente na arte, mas diz respeito a toda a natureza. Dessa forma, infere-se uma questão: “o que é a beleza? ” e, com ela, o chavão de que gosto não se discute.
     É claro que não se pode definir objetivamente a beleza, visto que ela não é uma propriedade imutável que se atribui ou não aos objetos, mas uma sensação própria do sujeito que a percebe, ajustada aos seus valores pessoais, ainda que tais valores estejam inevitavelmente subordinados aos valores culturais e histórico-sociais de determinada sociedade em dado tempo histórico. A beleza é relativa, não há como negar, mas essa relativização é profundamente ofuscada pela busca de uma essência ideal, um padrão de beleza.
     As transformações dos padrões de beleza do corpo feminino ao longo do tempo marcaram a evolução de diferentes visões sociais acerca do modelo estético que deveria ser incorporado pelas mulheres. A forma como as mulheres eram retratadas no período colonial, por exemplo, distancia- -se bastante do modelo buscado atualmente. Além desse processo corrente, isso evidencia também que os padrões são produtos de uma cultura.
Ideal de beleza ao longo do tempo
     O corpo da mulher durante o período colonial era tido como dentro dos padrões de beleza ao apresentar um aspecto saudável, simbolizado pela aparência rechonchuda, ou seja, quanto mais gorda a mulher fosse, mais bonita ela era considerada, isso porque o perfil untuoso do corpo remetia a um corpo bem nutrido, e ao seu volume era atribuída uma visão de saúde e vigor. Já durante a antiguidade clássica, o ideal grego da beleza era outro: com base em uma construção intelectual artística, os gregos valiam-se da perfeição e do equilíbrio das formas, bem como da harmonia e da proporcionalidade de todas as medidas. É quando surgem o nu feminino e a valorização do movimento. Para a antiga sociedade egípcia, a juventude era muito valorizada, bem como o corpo esbelto e os traços finos e alongados.
     Durante o século XIX, a forma mais avantajada ganha destaque novamente na classe da burguesia: mulheres gordas e de semblantes corados remetiam a riqueza e ostentação. Com a revolução industrial, esse modelo estético foi resgatado do período renascentista. O uso de espartilhos também estava presente com força nessa época, e as mulheres os utilizavam cada vez mais apertados. O século XX recupera o ideal de boa forma, marcado, entre outros fatores, pela emancipação feminina.
     Após o fim da Segunda Guerra, o corpo feminino curvilíneo, valorizando quadris e seios, ganha ênfase. A mulher dos anos 50 é mais sofisticada, adornada, e a beleza é de grande importância e preocupação social, bem como o uso de joias, cosméticos, salto alto, tintura para cabelo, entre outros acessórios. Os anos 60 foram marcados pelos movimentos de contracultura, e o movimento hippie foi o precursor dos novos perfis que surgiram na época, tais como o modelo estético que valorizou um corpo de aspecto adolescente, sem muitas curvas. Com a consolidação do movimento hippie nos anos 70, os cabelos eram longos, crespos e armados; a maquiagem era forte nos olhos, e muito blush no rosto. Enquanto os anos 80 pregaram o exagero, um estilo de extravagâncias e excessos, os anos 90 trouxeram a naturalidade, a simplicidade.
     Durante a década de 90 e início dos anos 2000, a ditadura da magreza parece se tornar mais hegemônica, talvez como consequência da expansão da comunicação e da imagem como símbolo. Ser magra torna-se uma verdadeira obsessão; mulheres altas e magras consagram o novo modelo estético. Alcançar esse padrão torna-se um esforço com a utilização de dietas malucas e a busca cada vez mais árdua pelo corpo “ideal”. A bulimia e a anorexia passam a ser frequentes.
     Atualmente, o padrão de beleza feminino estampado nas imagens midiáticas é: corpo magro, malhado, seios grandes, bumbum perfeito, pernas torneadas e barriga chapada. Em nome desse corpo ideal, as academias estão lotadas, e as cirurgias plásticas para colocar silicone e lipoaspirações são cada vez mais comuns.
Baixa, gorda e linda?
     Desde sempre, existe essa pressão social sobre as mulheres e seus corpos. Em todos os lugares, é possível captar essa imposição e padronização inexplicável que se faz do corpo feminino, nas revistas, nos outdoors, nas propagandas, nos filmes, nas novelas, nas passarelas. Sempre encontramos mulheres com corpos “perfeitos” ou o famoso “corpo violão”, corpo que é símbolo de saúde, de sensualidade, de beleza, tido como único que atrai e que é aceito. Esses paradigmas ditam muito mais do que como deve ser o corpo feminino: ditam também a roupa que combina com qual tipo de corpo, o sapato, o corte de cabelo adequado para as altas, para as baixas… A questão é: por que ser baixa, gorda ou não ter um corpo violão faz você não ser considerada uma mulher linda? [...]
     “Há uma corrente de teóricos que acreditam que, com tantos avanços femininos, a ditadura do corpo ideal é uma forma de ainda deter a mulher. E faz sentido, já que a maior parte acaba cedendo à pressão”, afirma a psicóloga Marjorie Vicente, em matéria do portal UOL. O cinema, a TV e a publicidade não enxergam a mulher gorda como qualquer outra, não exploram sua personalidade sem levar em consideração o físico ou apelar para o humor. A mídia age como se ser gorda não fosse o natural (não somente ser gorda, como ser baixinha, ter um corpo sem curvas ou uma deficiência física). O mercado é cruel com quem está fora dos padrões, e a sociedade também.
     Em uma matéria feita na revista Marie Claire, intitulada “Por que o mundo odeia as gordas”, uma pesquisa realizada com as leitoras da revista revela dados estatísticos que evidenciam o preconceito. Das respostas, 66% admitiram já ter feito um comentário maldoso ao ver uma mulher gorda usando biquíni; 58% já se sentiram secretamente felizes porque a ‘ex’ do namorado engordou muito; 52% acham que é pior engordar 15 quilos do que reduzir o salário em 30%; 37% ficam incomodadas vendo uma mulher gorda comer hambúrguer com batatas fritas; 36% não iriam a um médico de regime que fosse gordo; 21% acreditam que as gordas são preguiçosas; 21% imaginam que, se um “bonitão” está com uma mulher gorda, é porque existem outros interesses; 18% dizem que uma pessoa muito gorda deveria pagar por dois assentos nos aviões.
     [...] É vergonhoso e infeliz o quão cruel a sociedade pode ser com quem foge aos padrões de beleza. Todos os dias, diferentes mulheres que não se encaixam nos padrões sofrem preconceitos, são vítimas de insultos e levam desvantagem somente por não estarem na “medida certa”. [...]
Referência
 KUHN, Rolf. Em: HUISMAN, Denis (dir.). Dicionário dos filósofos. 2 v. São Paulo: Martins Fontes, 2001.p. 123.
*Amanda Nunes é estudante de comunicação social.


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